Fernanda Paz

sou triste porque sonhei coisas inalcançáveis,
que não se devem sonhar.


Estou triste como ondas que se partem e não voltam as mesmas. Parti de mim e me deixei partida, esquecida no meu ninho sem mãe, sem pai, sem amante que me cubra as feridas.

Sentir-me livre custa um preço, estar presa também custa. O que é que não me custa nada e me fará bem sem arrancar-me um pedaço? Nem o amor é de graça, e nem ele nos deixa inteiros e dignos – confesso em segredo.

Queria voltar a ver o mundo. Queria ser aquela que eu era, toda esperançosa e graciosa brincando de morrer e viver, morrer e viver com a vida ( só eu e ela).

Minha criatividade, meu espírito, minha dignidade escorrendo pelo ralo junto aos meus cabelos podres que caem e grudam no meu corpo. Sinto que vou me decompor, que minha alma já se foi e não sei quem é que escreve este texto. Vazia como o vento sem movimento, estou caindo por onde nenhuma lua poderá me salvar.

Não sei mais falar do sofrer se já não posso senti-lo como antes. Se já não o tenho rasgando meu útero, querendo parir poesias de sangue e carentes de alimento, poesias de fome e de susto. As letras deste teclado embaçam perante minha visão. Tenho dedos de uma morta, um corpo frio de congelar ursos polares. Tenho carência de matar ermitão.

Quero voltar a sentir, meus dedos precisam sentir o calor do mundo. Preciso desmorrer, descongelar, desmerecer a vida, para então querê-la de volta.

Quando todas as possibilidades desmaiarem no solo infértil do meu canteiro então talvez eu entenda o quanto é frágil tudo o que se mostra pertinente. Talvez eu entenda o quanto é frágil tudo o que pulsa, até mesmo a pedra com seus átomos em movimento. Tudo pode acabar de repente. Não existe amor de ferro, não se pode dizer que o amor resiste a tudo. O amor é mais frágil e curto que um suspiro num edifício de cartas de baralho. O amor é a grande fortaleza de nuvens.


Agora eu sei, amor é só um nome que se dá
a um rio que corre banhado de sol.

O mesmo sol que,na próxima estação, sugará
toda a vida do rio e secará até sua nascente
onde um dia se viu muita gente a se banhar
no arrepio.

7 comentários:

Elzira Dourado disse...

Nossa!
Conseguiu me arrancar lágrimas aqui viu!?
Que texto mais lindo...tão profundo que toca a alma da gente!
" Não existe amor de ferro,não se pode dizer que o amor resiste a tudo."
" Agora eu sei, amor é um nome que se dá a um rio que corre banhado de sol. O mesmo sol que , na proxima estação, sugará toda a vida do rio e secará muita gente a se banhar no arrepio."
Tão verdadeiro ...o amor tão bem explicado nessas palavras, muito bem definido...

Te abraço com todo carinho

Beijos com ternura

Aline Goulart disse...

Esse texto me emocionou muito. Nossa, estou sem palavras. O amor não resiste a tudo, pois nem tudo entende o verdeiro amor, ai não pode fazer mais nada. Beijinhos.

2edoissao5 disse...

quando a gente sofre muito, a impessao que fica é essa, mas sempre conseguimos renascer, mais fortes, menos sonhadoras...
beijo!

Ellen Cristiane disse...

Muito lindo seu blog, lindos textos, belas imagens parabéns! Te seguindo.

Janaina Cruz disse...

Lindo, lindo, lindo menina...
Você não apenas colocou palavras emocionadas, você emociona quem as lê.
As vezes ficamos mesmo perdidas nas mãos das tristezas, mas logo surge um sol, e seca todas as lágrimas.

Anônimo disse...

amei ...de mais..beijo e boa semana.

Borboleta no Casulo disse...

Que texto lindo!!
Realmente o amor não supera tudo, o amor não é de ferro, sei mt bem disso pois passei na pele!
Bjs